"Porquanto a graça de Deus se manifestou
salvadora a todos os homens" (Tt 2.11).
salvadora a todos os homens" (Tt 2.11).
A graça – De onde ela vem? O que ela produz? O que ela transforma em minha vida?
De onde vem a graça?
Ela brota do insondável amor de Deus para conosco, e é personificada em Jesus Cristo, que nasceu em Belém. "Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo" (Jo 1.17). Ela encontra seu ponto culminante na morte sacrifical de Jesus no Calvário e é válida como dádiva de misericórdia a todos os homens que já viveram, vivem e ainda viverão. Todo o Antigo Testamento, a Torá, os Salmos e os Profetas, apontam para Aquele que traz a graça, que sacrificou Sua vida para expiar os nossos pecados. Não é possível separar a graça da cruz. Cruz e graça formam uma unidade inseparável. Um Evangelho sem cruz não é Evangelho, pois o preço do nosso perdão, que Jesus pagou no Calvário com o Seu sangue, é alto demais. Mas não existe uma anistia geral. A sedutora doutrina da salvação final de todos, que vem muito ao encontro do pensamento humanista, contradiz o testemunho global da Sagrada Escritura, e por isso é uma mentira de Satanás. Não é possível separar a graça da justiça e da santidade de Deus.
O que a graça produz?
Ela traz a salvação, como diz o nosso texto bíblico. Todas as pessoas desejam um mundo saudável, intato. Quando ele existirá? No Milênio. Pelo pecado, toda a criação foi arrastada para o turbilhão da ruína e da morte. Jesus Cristo, que esteve presente na criação, arrebatará definitivamente o domínio de Satanás e restabelecerá uma situação paradisíaca. Esse plano de salvação divino é irrevogável. Ele já pode ser experimentado hoje por aqueles que confessam Jesus Cristo como seu Senhor. Você já está integrado nele? Feliz de você, se for assim! Se você não tem certeza da salvação, arrependa-se e venha ao trono da graça! Confesse os seus pecados em arrependimento sincero, e você achará misericórdia, você encontrará a graça! Jesus diz: "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á" (Mt 7.7).
A graça se manifestou através de Jesus Cristo. Sua manifestação é chamada de Epifania no calendário litúrgico. Aparições celestiais, relatadas freqüentemente nas Escrituras, manifestações de anjos ou do próprio Senhor, tiveram efeitos assustadores, impressionantes e edificantes sobre as pessoas. Pois não era algo banal que mensagens fossem dirigidas diretamente do mundo celestial a pessoas comuns. Quantas vezes lemos: "Eis que lhe apareceu um anjo do Senhor..." Antes da queda em pecado, o primeiro casal humano no Paraíso tinha um relacionamento íntimo com o próprio Deus. Lemos que Deus andava com os homens no jardim do Éden. Isso deve ter sido indescritivelmente glorioso e agradável – cada encontro com Deus era uma festa! Mas então o pecado criou um abismo intransponível, pois a santidade de Deus e a nossa pecaminosidade se excluem mutuamente. Deus não olha para onde existe pecado, mas Ele ama o pecador, porque é criatura Sua. Por isso o Seu amor insondável, apesar de ser sublime e santo, sempre encontrou o caminho até os pecadores. Que possamos reconhecer ainda muito mais a nossa indignidade e a santidade de Deus! Em Jesus Cristo encontramos graça restauradora e salvadora!
Antes que nosso Salvador aparecesse em forma humana sobre a terra, o próprio Deus revelou-se em epifanias. Como Abraão, também nós deveríamos ser tomados de profunda reverência pela visita dos três homens nos carvalhais de Manre. "Apareceu o Senhor a Abraão nos carvalhais de Manre, quando ele estava sentado à entrada da tenda, no maior calor do dia. Levantou ele os olhos, olhou, e eis três homens de pé em frente dele, Vendo-os, correu da porta da tenda ao seu encontro, prostrou-se em terra e disse: Senhor meu, se acho mercê em tua presença, rogo-te que não passes do teu servo" (Gn 18.1-3)..
O que esse encontro trouxe de graça salvadora? Vejamos três aspectos:
Em primeiro lugar, a visita do Altíssimo com Seus dois acompanhantes foi por si só um acontecimento altamente honroso e prazeroso para Abraão. Por isso ele os saudou respeitosamente: "Levantou ele os olhos, olhou, e eis três homens de pé em frente dele. Vendo-os, correu da porta da tenda ao seu encontro, prostrou-se em terra e disse: Senhor meu, se acho mercê em tua presença, rogo-te que não passes do teu servo," e depois atendeu seus nobres visitantes como príncipes. A seguir, ele recebeu a promessa de que no ano seguinte Sara teria um filho. Por fim, desse encontro e da intercessão de Abraão resultou a salvação de seu sobrinho Ló do terrível lamaçal de pecado de Sodoma. Portanto, ocorreu uma bênção múltipla de graça salvadora!
E assim lemos por toda a Bíblia sobre outros encontros singulares e salvadores de Deus com Isaque, Jacó, Moisés, Davi, Salomão e muitos outros. Escolhamos mais um encontro especial com Deus relatado no Antigo Testamento. O pastor de ovelhas Moisés viu uma sarça ardente no Monte Horebe, onde reconheceu o anjo do Senhor e ouviu a voz de Deus: "Não te chegues para cá; tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa. Disse mais: Eu sou o Deus de teu Pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. Moisés escondeu o rosto, porque temeu olhar para Deus" (Êx 3.5-6). A seguir Deus se revelou a Moisés pelo Seu nome: "Eu sou o que sou" (Êx 3.14). Esse nome tem o maior significado! Aquele que é eternamente e que sempre permanece igual revela-se ao homem, do qual jamais pode ser dito algo igualmente positivo. O homem é capaz de se transmudar, enganar e decepcionar, sendo até como um ator em dissimulação. É Satanás que nos ensina a sermos falsos, a usarmos máscaras, pois ele também pode transformar-se em anjo de luz ou aparecer como lobo em pele de cordeiro para seduzir as pessoas. Como é bom saber e firmar-se pela fé no fato de que Deus é imutável! É o que igualmente está escrito acerca de Seu Filho: "Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre" (Hb 13.8). Ele, que está assentado à destra do trono de Deus, é e continua sendo o nosso intercessor.
Mas que salvação trouxe essa aparição de Deus no Monte Horebe? Mais uma vez algo múltiplo:
1. Como Moisés, devemos reconhecer a santidade de Deus e prostrar-nos diante dEle em adoração e santa reverência! Na nossa sociedade multicultural muitas coisas são niveladas e profanadas. O respeito a Deus e à autoridade desaparece. Reverência santa tornou-se uma idéia ultrapassada. Mas Moisés foi tomado de santo temor quando viu e sentiu a presença divina.
2. Quando Deus dá uma tarefa difícil aos homens, Ele também dá as forças necessárias para executar essa tarefa. Com a revelação de Deus a Moisés este tornou-se capaz de liderar o povo, de ser um guia até a Terra Prometida.
3. Aqui foi dado início à salvação do povo judeu, que era escravo no Egito. Deus manifestou-se para anunciar a libertação do Seu povo. Portanto, mais um bênção múltipla resultante dessa aparição santa e salvadora!
Uma pergunta, entre parênteses: É necessário sempre recorrer a exemplos do Antigo Testamento? Pensamos que sim. Por um lado, reconhecemos no Antigo Testamento o sábio trabalho de educação que Deus realizou com Seu povo. Também nós deveríamos aprender dessas experiências do passado. Por meio delas é colocado um espelho diante de nós. Se considerarmos isso moralista, revelamos presunção reprovável. Por outro lado, precisamos saber: "Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça" (2 Tm 3.16). Além disso, não devemos depreciar o Antigo Testamento como algo ultrapassado, pois declarações que têm valor e significado para a salvação são sempre atuais. Mas quem ainda as leva a sério hoje em dia? O Antigo e o Novo Testamento não podem ser separados, pois formam uma unidade orgânica. O Plano de Salvação começou com o primeiro homem e se desenvolve constantemente até seu final no reino celestial. Você terá experiências felizes e abençoadas ao ler toda a Bíblia em oração!
Mas a história secular e o plano de Deus para com os homens seguem em direção ao ponto culminante da graça salvadora. Pois estamos a caminho do estabelecimento e da plenitude do reino de Jesus Cristo: "Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei" (Gl 4.4). No Natal cantamos com alegria: "...então do Seu trono Deus enviou a salvação do mundo, Ele enviou a Ti, Seu Filho".
O que a graça manifestada produz? Uma transformação revolucionária do mundo, quando pessoas se deixam mudar por Jesus. Isso significa uma poderosa penetração do mundo celestial em nosso tempo: Cristo veio para realizar a expiação por nós, e isso levou à Sua morte sacrifical no Calvário. A vinda do Salvador a esta terra traz graça salvadora aos corações abatidos e enfermos pelo pecado. Ninguém precisa se desesperar, a salvação veio para todos. Aquele que experimentou essa graça salvadora não pode e não deve guardá-la só para si: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" (Mt 28.19), foi a tarefa deixada por Jesus a Seus discípulos. E esse pequeno grupo, que aceitou o chamado de Jesus e foi equipado pelo Espírito Santo, passou a trabalhar no lugar que Jesus designara para cada um deles. Assim também ainda hoje, especialmente os jovens deveriam se deixar recrutar para o Seu serviço! Como é grande a diferença entre o sistema que Deus usa para escolher Seus cooperadores e a maneira usada pelos detentores do poder terreno: "Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes" (1 Co 1.26-27). Sempre houve pessoas que obedeceram a esse chamado e se deixaram preparar para o trabalho de testemunhar, seja em lugares longínquos ou no seu local de trabalho. A mensagem da cruz e da graça salvadora ainda precisa ser propagada hoje, acompanhada de um apelo à decisão, mesmo que nem sempre seja bem aceita. Quem quer ser um soldado de Cristo e não um anticristo?
O versículo citado no início nos diz que a graça se manifestou salvadora. Quando hoje pessoas nos falam de visões transcendentais ou aparições de luz, alertamos sobre essas manifestações. Nos princípios do Plano de Salvação, Deus considerou-as necessárias para as pessoas daquela época. Hoje não precisamos mais desses fenômenos, pois na Bíblia temos toda a Palavra de Deus, que é suficiente e pela qual Deus pretende nos falar a qualquer momento. Se isso não basta para nós, não temos solução. Deus falou por meio de Seu Filho e depois através dos apóstolos (Hb 1.1). O reformador Zwinglio tinha plena razão com seu apelo: "À Escritura, à Escritura!"
O que a graça revelada transforma em minha vida?
A nossa natureza pecaminosa e corrompida não pode ser melhorada. Nem a psicologia pode ajudar. A única coisa que resolve realmente é entregar totalmente à morte o tão querido "eu" e mergulhar na graça salvadora que Jesus nos oferece. Então experimentamos o poder transformador do Espírito Santo, que renova desde a base: "E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas" (2 Co 5.17). Você realmente deseja isso? Na verdade esse é um processo doloroso, mas muito salutar. Infelizmente muitas pessoas recuam quando se trata de dar esse passo concreto no discipulado de Jesus. Em primeiro lugar a graça salvadora pretende produzir a cura do nosso eu corrompido e pecaminoso. Nós mesmos não somos capazes de realizar isso. A cura bíblica acontece quando concordamos em nos identificar com a morte de Jesus (Rm 6.1-14). O inimigo tenta barrar-nos, pois teme a cruz, porque ali ele foi julgado. O caminho que eu e você devemos seguir é indicado nos versículos que seguem as nossas palavras de introdução: "...educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda a iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras" (Tt 2.12-14). Nosso ministério e nosso trabalho só serão frutíferos e esses frutos só permanecerão se produzidos por uma vida em constante comunhão com Jesus. Isto é santificação, pois a Escritura diz: "Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hb 12.14).
Examine-se: o que o impede de seguir a Jesus de maneira decidida? O tempo passa, e sem demora Jesus virá, seja para o Arrebatamento ou para tomá-lo para Si, e aí você estará inesperadamente diante dEle. Não perca de vista o glorioso alvo, pois aí valerá também para você: "Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda" (2 Tm 4.8).
Fonte: http://www.chamada.com.br/mensagens/graca.html - (Burkhard Vetsch)